Luanda, 19 de Julho de 2025 - O advogado, académico e ex-militar Sérgio R. Piçarra recusou publicamente a condecoração proposta pelo Governo angolano por ocasião dos 50 anos da proclamação da Independência Nacional, celebrada a 11 de Novembro de 1975.
Numa carta aberta ao Presidente da República, General João Manuel Gonçalves Lourenço, Piçarra destacou o significado histórico da data, que marcou o nascimento do Estado angolano soberano, fruto da luta armada liderada pela Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), sob a liderança de Álvaro Holden Roberto, António Agostinho Neto e Jonas Malheiro Savimbi, respetivamente.
Piçarra reconheceu a importância de um processo genuíno de reconciliação nacional e elogiou a iniciativa de condecorar mais de 670 cidadãos com as Medalhas da Classe Independência e Classe Paz e Desenvolvimento pelos seus contributos ao país. Contudo, expressou profunda indignação pela exclusão dos líderes históricos das homenagens, considerando-a uma falha na consolidação de uma verdadeira Nação Angolana. Além disso, criticou duramente as restrições à liberdade de expressão, apontando a censura ao seu trabalho no Jornal de Angola, a ausência de cobertura pela Televisão Pública de Angola (TPA) e a repressão de manifestações pacíficas.
Na carta, datada a 18 de Julho de 2025, Piçarra declarou: "Aceitar uma medalha nestas condições em que se pretende homenagear a liberdade de expressão ao mesmo tempo que se mantém a imprensa pública enjaulada e se reprimem manifestações pacíficas, ou ainda quando se exclui parte da nossa história na atribuição dessas mesmas condecorações, seria uma incoerência da minha parte que o Mankiko e a Fatita, mas sobretudo a Esperança e o Futuro, não me perdoariam.
Com o devido respeito e renovado agradecimento, declino a medalha como sinal de protesto na esperança de que num futuro próximo, num momento de total liberdade, as condecorações a atribuir sejam verdadeiramente dignas do seu significado." Ele rejeitou a condecoração como protesto, apelando a um futuro de verdadeira liberdade onde as distinções honrem plenamente o seu significado. Piçarra concluiu reafirmando sua esperança numa Angola mais justa, pedindo reflexão e coragem para superar os erros do passado.