O ex-governante, cujo interrogatório prosseguiu pelo segundo dia consecutivo, descartou a possibilidade de se ter “apossado” de dinheiros públicos, pois vem fazendo poupanças desde muito antes de assumir cargos públicos. Tomás assume-se como empreendedor no negócio do imobiliário, em que, dentre várias funções, exerce a de consultoria, o quanto basta para justificar as possíveis poupanças que terá acumulado, descartando o recurso ao erário para enriquecimento. O ex-ministro dos Transportes continuou a ser ouvido pela instância do corpo de juízes que preside a sessão de julgamento na ausência dos co-réus, testemunhas e declarantes, que previamente foram recolhidos da sala de audiências por determinação do tribunal. Numa das mais curtas sessões (4ª sessão), grande parte do tempo foi consumido “espremendo” Augusto Tomás. Por duas horas, o antigo governante respondeu em pé a todas as questões formuladas pela instância composta pelos juízes Joel Leonardo (presidente) auxiliado por Norberto Sodré e João Fuantoni (conselheiros). Seguro das suas respostas Tomás pareceu deixar claro que por detrás do seu julgamento estão outras motivações e algumas delas já reveladas na sessão de Terça-feira. A fazer fé nos argumentos em sua defesa, o mesmo está a ser vítima da sua acção laboral em cargos públicos por que passou. A isso chamou “outros factores” resultantes, acima de tudo, do desmantelamento de redes mafiosas em portos e aeroportos do país. “Criámos, de facto, problemas sérios, tendo em conta que, como é de domínio público, havia um congestionamento portuário de cerca de 90 navios encalhados em Luanda, com despesas diárias por navio de 25 mil dólares (anuais de mais de 2,5 mil milhões de dólares)”, e era necessário desmantelar essa rede mafiosa que era dirigida pela máfia do shipping internacional”, referiu o ex-ministro na apresentação de argumentos em sua defesa na terceira sessão deste julgamento. Augusto Tomás volta a ser interrogado esta Quinta-feira. O processo nº 02/19 tem arrolados mais quatro co-arguidos acusados de peculato, violação de normas de execução de orçamento e abuso de poder na forma continuada. E está a ser julgado na Câmara Criminal do Tribunal Supremo.