Os anos 90 representaram a revolução e gloria da música kizomba. No entanto o estilo rock começou a fazer a sua história com bandas extraordinárias, concertos fabulosos, eventos de lembrar e o programa radiofônico de todos os tempos. Lembro horas e horas de gravações do programa Volume 10 e muitos de nós éramos fã de um dos Dj que fazia estas noites fabulosas na rádio, discotecas e eventos em terraços da cidade de Luanda – Henda Slash Lenine.
Henda Slash Lenine é um dos primeiros Dj de Rock e desde lá para cá só tem proporcionado toneladas de alegrias para aqueles que frequentam os seus eventos para os amantes do rock, pop, trance, reggae e o metal. Henda tem uma longa história, mas que poucos conhecem e por outro lado sempre foi um desejo meu “to breack it down” a “life” deste “brother” sem cerimonias. Henda tirou um tempinho da sua agenda apertada e nos concedeu esta entrevista fantástica, então sem mais demoras vamos começar este negócio.
LEA -
Acho que muitos de nós gostaríamos de saber de onde vem o nome Henda Slash Lenine? HSL -
Henda é nome próprio, Slash Lenine é um pseudônimo. Slash: porque entrei para o rock no início da década de 90 quando a banda Guns n’ Roses estava no auge da carreira e tornei-me um fã incondicional do guitarrista Slash, tanto pelo visual quanto pela performance técnica. Lenine: este nome foi atribuído pela minha professora da quinta classe, como o meu primeiro nome é Vladimir, ela chamava-me de Lenine que é o pseudônimo de Vladimir Ulyanov, revolucionário comunista russo.
LEA - Henda, da cassete para música digital quantos anos de Rock? HSL -
Certamente tudo começou na cassete há 25 anos, altura em que descobri o rock pela Televisão Popular de Angola.
LEA - O que foi que viu na TV que o levou a ser um Dj de música rock? HSL -
Inicialmente tornei-me amante de rock influenciado pelos programas Vídeo Disco e Explosão Internacional que na época passavam muito rock, bandas como Midnight Oil, Def Leppard, U2, Guns N' Roses, Nirvana, Kiss, The Cure e outras passavam constantemente. Após a descoberta o passo seguinte foi de partilhar o gênero musical com mais pessoas, logo, passei a tocar para amigos.
A primeira vez que toquei com a equipa do Volume 10, foi em 1996 no primeiro aniversário do Volume 10 na antiga Discoteca Paralelo 2000.
LEA - Que tipos de eventos é que tocavas ou como surgiam os convites para ires tocar uma vez que o mesmo não era popular? HSL -
Os primeiros eventos foram muito restritos, aconteciam em terraços de prédios para um público reduzido até que surgiu um convite para tocar em uma Discoteca - Camuxi, a convite do meu irmão que era o Dj residente, que localizava-se no interior de uma quinta no Bairro da Estalagem - Viana. Depois desta porta, outras se abriram como as discotecas Maravilha na Feira Popular e Bom Som na Praia do Bispo.
LEA - Como conseguias as músicas naquele tempo? HSL -
A música chegava por intermédio de amigos que compravam no exterior do país, por cá os mercados dos Kinaxixi, Congolenses e Roque Santeiro comercializavam discos maioritariamente usados e materiais de merchandising de bandas de rock (camisolas, bandeiras, lenços, carteiras, bolsas, etc.). A loja Darinel que situava-se na rua Cónego Manuel das Neves quem vai ao São Paulo comercializava muito material de merchandising de bandas de rock mas a preços pouco acessiveis. A R.M.S. da Vila Alice liderava em comercio de CDs novos em pouco tempo a Sony Music da rua Rei Katiavala também juntou-se ao mesmo comercio.
LEA - Como consegues as músicas hoje? HSL -
Actualmente o cenário musical mudou completamente com a internet e serviços streaming, podemos comprar música em qualquer lugar, embora ainda não deixei o hábito da compra de álbuns físicos.
LEA - Por falar nisso, aproximadamente quantos disco de rock contem a sua coleção? HSL - Perto de 1.000 CDs originais.
LEA - Como inicia o seu relacionamento com a rádio? HSL -
No início do ano de 1996 conheci a equipa do Programa Volume 10 por intermédio de um amigo, na altura composta por Luis Fernandes, Rui Wakiva e Jacinto da Luz. Desta aproximação passei logo a colaborador do programa e depois de alguns meses a membro da equipa. No ano de 2.000 a Rádio FM Estéreo passa a emitir 24/24 horas, daí passo a colaborador da rádio assumindo a função de sonoplasta de vários programas da estação (Manhã FM, Raizes, Dimensão Latina e Música Clássica), em pouco tempo passei a realizador de programas. Como realizador destacam-se os programas já extintos: Weekend, Caminhos do Rock, O Show da Semana e Baladas do Rock. Actualmente sou realizador dos programas Volume 10, Clube Reggae (desde 2010), Manhã Alternativa (desde 2010), Miradouro da Lua e mentor dos programas Vozes Cruzadas e Ritmos sem Originais.
LEA - Como o foi a primeira vez que tocaste para o Volume 10, ainda recordas a sua seleção musical? HSL -
A primeira vez que toquei com a equipa do Volume 10, foi em 1996 no primeiro aniversário do Volume 10 na antiga Discoteca Paralelo 2000, a selecção já não recordo, mas certamente tocaram músicas de Sepultura, Metallica, Pearl Jam, Simple Minds, The Offsprimg, Greenday, The Cure e Nirvana, são bandas que na época tocavam muito.
LEA - Será que a rádio afectou a sua maneira de tocar e o seu gosto musical? HSL -
Antes da minha colaboração na Rádio Fm Estéreo, agora RFM 96.5, já era um ouvinte assíduo da estação, independentemente do rock gosto de boa música e está estação sempre esteve bem neste aspecto, aprendi com os meus colegas a diversificar estilos musicais. A selecionar música para a rádio tive que adaptar-me a linha editorial da mesma e ao formato dos programas, já a tocar em eventos toco o Rock ou Reggae obviamente com alguma influência da rádio porque já lá vão muitos anos.
LEA - Hoje te caracterizas como um Dj de Rock ou genérico? HSL -
Sou DJ dos géneros Rock, Reggae, Lounge, Chill Out e Trip Hop embora entre eles o que mais exploro é o rock.
LEA - Qual dos gêneros tem tido mais aceitação nas noites? HSL - O rock é melhor aceite.
LEA - Levando isto em consideração acha que a mentalidade das pessoas já mudou concernente a este gênero denegrido na nossa sociedade? HSL -
Ainda não, o rock ainda contínua a ser um gênero marginalizado na nossa sociedade, em parte por desconhecimento, muitas pessoas consomem o rock sem saber, é necessário mais divulgação. Contam-se os programas radiofônicos de rock, o que não é bom para o mercado, precisamos ter uma cadeia que funcione, desde agências, rádios, eventos, patrocinadores, etc. O rock faz sucesso em todo mundo, não entendo o porquê que em Angola tem que ser diferente. É preciso intensificar a divulgação do género para mudar mentalidades. Louvamos a iniciativa do evento Angola Music Awards pela inserção de uma categoria de rock desde o ano passado, mas ainda assim é pouco.
LEA - E o que diz da música rock feita em Angola, será que já está em altura de atender as necessidades radiofônicas e das noites e posteriormente convencer os patrocinadores e promotores?
HSL -
Quanto a música rock produzida em Angola podemos dizer que estamos a dar passos positivos na medida em que as músicas já concorrem em eventos como os AMA; temos banda premiada internacionalmente no caso dos Mvula, festivais nacionais com varias bandas de rock como o Rock Lmimwe Eteke do Huambo e Rock no Rio Catumbela em Benguela, o programa Volume 10 que apoia incondicionalmente o rock nacional há mais de 22 anos e muitos outros feitos. Ainda assim existem bandas que precisam de profissionalizar-se mais e entender o mercado. Maioritariamente as bandas de rock nacional são autofinanciadas e é preciso ter noção do que o mercado pode absorver em materia de produção de rock e definir uma estratégia de penetração no mercado nesta perspectiva, para que possam atrair apoios e parcerias.
LEA - Tens alguma banda favorita (no mercado nacional)? HSL -
Gosto de várias, mas Hi Flow destaca-se.
LEA - 22 anos de Volume 10, qual é a sessão – dever cumprido? HSL -
O dever ainda não foi cumprido, o Volume 10, é o motor do rock em Angola, o grupo mais resistente obviamente, muitas bandas surgiram e dissolveram–se mais o Volume 10 sempre no activo e cada vez melhor, inclusive o tempo de antena foi alargado há mais de um ano. Ainda assim, o estado actual do rock está longe da minha expectativa, precisamos ter mais divulgação nas mídias tradicionais rádios, televisão, jornais e meios digitais; as bandas precisam atrair parcerias e participar em grandes eventos dividindo o placo com músicos conceituados de outros generos musicais.
LEA - Chegou aos nossos ouvidos de que estas a escrever um livro sobre o rock nacional, em que pé estamos com esta obra? HSL -
Este é um material que ainda está em fase embrionária, a perspectiva é de retratar a história do rock em Angola desde o período antes da independência, facto que muitos desconhecem, este é um trabalho árduo de investigação e envolve muitos custos. Perspectiva-se com este trabalho criar uma base de informações para jornalistas e potenciais bandas de rock.
LEA - E o que dizer de um disco do Dj Henda Slash Lenine? HSL -
Sinceramente sou amante de rock mas nunca experimentei tocar algum instrumento, fico pelo ouvido apenas.
LEA - Que conselho deixa para pessoas que gostariam de ser um Dj de música rock? HSL -
Em primeiro lugar tem que ser um bom ouvinte, tem que conhecer bem as músicas. Apesar da técnica de DJ hoje estar muito evoluída, no rock para os Djs tem uma desvantagem, existe muita disparidade nos BPM’s o que torna o acerto da música muito difícil, ao contrario da musica electrônica, Hip Hop e outros gêneros. A métrica ou compassos das linhas musicais têm grandes diferenças devido a variedades de subgêneros do rock. Em segundo lugar é preciso ter domínio técnico dos equipamentos, uma formação básica seria é o ideal. Comecei a tocar no início da década 90 e apenas fiz formações de Dj no Brasil em 2013 e constatei que era a parte que faltava para ser um Dj de facto.
LEA - O que acha da lea.co.ao? HSL -
A LEA.CO.AO é um motor de informação musical, tem apoiado os artistas angolanos e o mercado precisa desta componente de difusão digital que vem reforçar as mídias tradicionais.