João Mendes Teixeira Botelho, conhecido artisticamente como Speed Mendes, nasceu e cresceu em Benguela, Angola, no bairro Sacadura Cabral. Segundo entre três irmãos, Speed descreve sua infância como uma mistura de altos e baixos, dividida entre a vida na rua e em casa. Influenciado pela dinâmica de grupos juvenis, ele se envolveu cedo com a cultura de rua, que moldaria sua trajetória artística. Antes da música, Speed foi jogador de basquete profissional, começando aos 8 anos na academia do Primeiro de Maio, clube representativo de Benguela. No entanto, aos 10 anos, sua vida mudou ao entrar para um grupo de jovens que o levou a criar sua primeira música, um kuduro intitulado "Sacadura é Banda Minada". Essa experiência marcou o início de sua jornada musical e a formação do grupo Favelas, que se tornou notório na cena jovem de Benguela.
Transição para o Hip-Hop
Embora tenha começado no kuduro, um gênero que ele descreve como "único e real", com uma linguagem direta que reflete a vivência de pessoas com baixo grau acadêmico, Speed encontrou no hip-hop sua verdadeira paixão. Ele destaca que o hip-hop oferecia uma instrumentalização diferenciada, com abordagens coesas, poesia, metáforas bem construídas e mensagens com sentido. Essa transição aconteceu por influência de seu amigo Tony Hood, com quem formou o grupo Rapazes em 2010. Em 2012, junto com Dias Ministro (Mr. Microphone) e Nico Xuxa, eles fundaram a WeedNation, uma label independente que se tornou um pilar do movimento hip-hop em Benguela.
WeedNation e Primeiros Sucessos
Como parte da WeedNation, Speed Mendes contribuiu para um repertório marcante, com músicas como "Vim com Gang", "Mais uma Weed", "Sai Sai", "Corpo Cansado", "2 Telefones" e "Ninguém Tabater", que ganharam popularidade em Benguela. Em um ano prolífico, o grupo gravou 100 músicas, mas, por questões pessoais, o projeto foi dividido em quatro, resultando na mixtape solo de Speed, Favelas & Squads, lançada entre 2018 e 2019. A distância geográfica entre os membros, com a maioria se mudando para Luanda, dificultou apresentações ao vivo, mas o grupo nunca se separou oficialmente e continua planejando novos projetos colaborativos.
Carreira Solo
A partir de 2018/2019, Speed Mendes consolidou sua carreira solo com o lançamento da mixtape Favelas & Squads. Músicas como "Sai Sai" e "Incômodo" (que gerou uma saga com três partes) destacaram-se, reforçando sua habilidade em escrita, flow e entrega emocional. Um dos pontos altos de sua carreira foi a música "Demarte Pena", inspirada no lutador angolano de MMA Demarte "The Wolf" Pena, que agora compete no UFC. A faixa, que narra a história de Speed como se fosse a do lutador, chamou a atenção de Pena, resultando em uma conexão pessoal entre os dois. Speed também lançou "Winner" e "Abençoado", músicas que apoiaram campanhas para o reconhecimento de Demarte Pena pelas autoridades angolanas, um marco significativo em sua trajetória.
Momentos Difíceis e Superação
A carreira de Speed não foi isenta de desafios. Após a mudança de seus colegas para Luanda, ele enfrentou dificuldades como queda nas visualizações, boicotes e ataques de outros rappers. No entanto, sua vida mudou ao se aproximar de Zé Beato, um mentor que ele considera um irmão mais velho. Zé Beato o ensinou a valorizar seu talento, dominar o palco e manter sua autenticidade, mostrando que um artista não tem limites, mas também não deve se vender. Essa relação foi crucial para sua evolução artística.
Conquistas e Colaborações
Entre os momentos mais altos de sua carreira, Speed destaca a gravação de álbuns com Zé Beato e Eliei, além de ser, ao lado de Eliei, um dos primeiros artistas de hip-hop em Benguela a realizar uma performance de 45 minutos em um festival, com trocas de figurino e fogos de artifício. Ele também foi um dos primeiros rappers de Benguela a conquistar um contrato publicitário. Suas colaborações incluem projetos com artistas brasileiros e uma parceria planejada com Killa O, dos Reais Camaradas, além de uma relação próxima com Deezy, com quem compartilha trabalhos e a equipe SOS.
Impacto e Legado
Apesar de ainda não ter recebido premiações, Speed reconhece as dificuldades enfrentadas por artistas independentes em Angola, mas segue determinado a "furar a bolha". Suas viagens para cantar em províncias como Lubango, Huambo, Luanda e Sumbe, mesmo em eventos menores, reforçam seu compromisso com a música. Speed Mendes continua a representar Benguela e a WeedNation, mantendo-se fiel às suas raízes e à autenticidade do hip-hop angolano.