Engrácia Ferreira dos Santos, conhecida artisticamente como Grácia Ferreira, nasceu em 1973, em Luanda, Angola. Desde cedo revelou interesse pelas artes visuais, tendo concluído o Ensino Secundário em Artes Plásticas no Instituto Nacional de Formação Artística e Cultural (INFAC), onde defendeu como trabalho final de escultura o tema “Diferença Conceptual entre Estatueta e Estátua”.
Durante a sua juventude, na baixa de Luanda, conviveu com outros artistas com quem integrou o grupo “Os Nacionalistas”, criado com o objetivo de promover a arte popular angolana. A sua formação é centrada na escultura, mas o seu percurso artístico expandiu-se naturalmente para a pintura, o baixo-relevo e a experimentação com diversos materiais.
Ao longo da carreira, Grácia Ferreira participou em exposições individuais e coletivas em Angola, Portugal, Cabo Verde e Cuba. Em 1998, recebeu uma Menção Honrosa na ENSARTE, e em 2000 foi distinguida com o Prémio Juventude de Escultura ENSARTE, reconhecimento importante na consolidação do seu percurso artístico. Em 2014, realizou a exposição individual “Retrospetiva do In-maginário II”, na Galeria Tamar Golan, em Luanda.
Em 2015, integrou o projeto editorial “A Face da Arte Angolana Contemporânea – 40 Anos de Independência, 40 Obras de 20 Artistas”, promovido pela Fundação Arte e Cultura e Adriano Maia Internacional. No ano seguinte, participou na exposição coletiva “Re-Encontros”, no Centro Cultural Camões, em Luanda. Em 2020, integrou a exposição virtual “Pandemia: Works by Angolans in Portugal”, refletindo um período de incerteza vivido pelos artistas durante a crise sanitária global.
A sua prática artística caracteriza-se pela exploração de acrílico, óleo e aguarela, aplicados sobre tela, papel e materiais reciclados, com destaque para o vidro reutilizado, evidenciando uma preocupação ambiental. A cor assume um papel central na sua obra, marcada pela convivência entre o surrealismo, o abstracionismo e referências ao quotidiano e à realidade africana, filtradas por uma imaginação profundamente pessoal.
Para além da criação artística, Grácia Ferreira exerceu funções como professora de Educação Visual e Trabalhos Manuais em Angola e mantém um estúdio que funciona simultaneamente como espaço de criação, exposição e comercialização de obras. Participou ainda em projetos curatoriais coletivos, como a exposição “Gina Diama (Meu Nome, Minha História)”, apresentada na Galeria Artistas de Angola, em Lisboa, onde expôs ao lado de outros artistas angolanos.
A sua obra reflete um percurso coerente e contínuo na arte contemporânea angolana, cruzando memória, identidade, experimentação material e expressão simbólica, afirmando Grácia Ferreira como uma artista de linguagem própria e consistente.