Nascido em Moçâmedes, atual Namibe, Angola, em 1950, Mário Tendinha tornou-se uma das figuras mais marcantes da arte contemporânea angolana. Sua trajetória artística, repleta de interrupções e renascimentos, reflete a própria história turbulenta de seu país, evidenciando a resiliência de sua criatividade e expressão artística.
Desde criança, demonstrou uma forte aptidão para o desenho, desenvolvendo seu talento de forma autodidata. Aos 18 anos, influenciado pelos movimentos culturais das décadas de 1960 e 1970, como o hippismo, a pop art e os quadrinhos, começou a pintar profissionalmente. Sua primeira exposição individual aconteceu em 1972 no Huambo, seguida por mostras em Luanda e Lubango, consolidando seu nome no cenário artístico angolano.
No entanto, sua trajetória foi abruptamente interrompida em 1975, com a invasão sul-africana. Seu ateliê em Lubango foi saqueado e destruído, resultando na perda total de suas obras. O evento traumático o afastou da arte por 28 anos, período em que se dedicou ao ativismo político, sendo militante do MPLA e sindicalista da UNTA, além de atuar na gestão empresarial.
Seu retorno às artes plásticas aconteceu em 2003, marcando o início de uma nova fase criativa, caracterizada pela exploração de memórias do sul de Angola, especialmente na série "Lá para o Sul...". Sua arte passou a refletir um profundo engajamento com questões sociais e ecológicas, utilizando predominantemente tinta da china e técnicas mistas. Desde então, realizou diversas exposições individuais, com destaque para Angola e Portugal, ampliando ainda mais sua presença no meio artístico.
Tendinha desenvolveu uma linguagem visual única, combinando influências da pop art com elementos da cultura angolana. Seu trabalho aborda criticamente questões sociais com um humor refinado e simboliza a angolanidade por meio de elementos como os tradicionais estendais de roupa. Suas obras exploram a relação entre urbanização e identidade cultural, criando diálogos visuais profundos e carregados de significado.
Além de sua atuação artística, é um grande colecionador de arte africana e latino-americana, com uma forte paixão por viagens, especialmente para o Oriente e América Latina. Também se destacou como gestor de empresas, conciliando sua carreira corporativa com a produção artística. É casado, tem três filhas e quatro netos, mantendo sua vida familiar próxima de suas inspirações e referências.
Seu reconhecimento internacional o levou a integrar acervos em diversos países, como África do Sul, Portugal, Brasil, Estados Unidos, França, Itália, Austrália e Nova Zelândia. Entre suas exposições mais recentes, destacam-se "Ngola Mirrors", uma instalação interativa no Instituto Camões, e "Oratura dos Ogros e do Fantástico", uma fusão de artes visuais, dança e contos tradicionais. Também participou do projeto coletivo "Olongombe", junto a outros grandes nomes da arte angolana.
Mário Tendinha representa a resiliência e a força da criação artística angolana. Superando traumas de guerra e longos períodos de inatividade, consolidou-se como uma referência na cena cultural contemporânea. Sua obra, profundamente enraizada nas paisagens e memórias do sul de Angola, transcende fronteiras e dialoga tanto com questões locais quanto com linguagens artísticas universais, reforçando seu papel como um dos mais autênticos e expressivos artistas da Angola contemporânea.