Há discos que não são apenas coleções de canções—são sentimentos transformados em melodia, cartas abertas a um público que acompanha e acolhe a arte de forma generosa. Paulo Flores, com seu mais recente álbum Canções Que Fiz Pra Quem Me Ama, constrói um tributo à memória, um agradecimento e um reencontro com sua essência musical.
A estreia desse trabalho aconteceu em Lisboa, no palco do B.Leza, no dia 24 de abril, com uma recepção calorosa do público. A casa estava lotada, com ingressos esgotados semanas antes, o que levou à abertura de uma segunda data, que também se esgotou rapidamente. O entusiasmo em torno do álbum já antecipava o impacto que ele teria.
Durante o espetáculo, momentos especiais marcaram a noite: Tito Paris, convidado para dividir o palco, emocionou o público ao interpretar Clarice com Paulo. Em seguida, a homenagem a Sara Tavares, com a melancólica Estrela, fez da apresentação um espaço de lembrança e celebração da artista cabo-verdiana.
Além dessas colaborações, o espetáculo foi palco de reencontros com Yuri da Cunha e Manecas Costa, que ao longo dos anos construíram uma trajetória musical ao lado de Paulo, fortalecendo o semba e suas raízes africanas. Mais do que um simples concerto, foi uma celebração de sua carreira e das conexões que sua música cria.
No álbum, Canções Que Fiz Pra Quem Me Ama, Paulo Flores se reconecta com sua Angola, levando ao público uma fusão de semba e sonoridades tradicionais, com letras que falam de pertencimento, emoção e história. A recente tour por Angola, que passou por cidades como Lubango, Namibe, Huambo, Bié, Benguela e Luanda, foi um momento marcante para o cantor—uma oportunidade de cantar olhos nos olhos com seu povo e fortalecer laços que sempre estiveram presentes em sua música.
Entre as faixas do disco, duas merecem destaque especial: a primeira, com Kota Bonga, traz versos impactantes que refletem questões sociais, com linhas como "Não adianta se calar, a maka está a aumentar, vem quem quer falar antes mesmo de morrer", enquanto Estrela (Para Mana Sara) nos transporta a um universo nostálgico, misturando kizomba com sonoridades cabo-verdianas e um coro feminino que remete aos anos 90.
Se fosse preciso dar uma nota a este álbum, seria um 10 absoluto. Paulo Flores não apenas lançou um disco, mas um ato de amor e agradecimento, uma obra construída com memória, afeto e o reconhecimento de um público que nunca o deixou—assim como ele nunca nos deixou.