O agravamento da crise humanitária na Faixa de Gaza voltou a dominar os noticiários internacionais após a confirmação de mais sete mortes por fome e desnutrição, elevando o número total para 154 vítimas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Desde o início do dia, ataques israelitas já mataram pelo menos 21 palestinianos, incluindo mais de uma dúzia que buscavam ajuda alimentar, conforme relatos médicos divulgados pela Al Jazeera.
Em meio à indignação crescente, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um plano de distribuição de alimentos em parceria com Israel, alegando que o Estado israelita “presidirá” novos centros de ajuda para assegurar uma distribuição “adequada”. No entanto, tanto Trump quanto os seus representantes do Departamento de Estado evitaram explicar como esse sistema será diferente dos centros já existentes ou como será operacionalizado.
A proposta norte-americana surgiu enquanto mais de 40 senadores democratas pressionam o governo por maior envolvimento na crise humanitária, pedindo o reinício das negociações de cessar-fogo. O número de mortos no conflito ultrapassa 60 mil palestinianos desde o início da guerra, há 21 meses, conforme dados das autoridades de saúde locais.
A situação levou à publicação de uma carta aberta no jornal The Guardian, assinada por 31 destacadas figuras israelitas, incluindo o cineasta Samuel Maoz, o ex-presidente da Knesset Avraham Burg, e o pintor Michal Na'aman, exigindo sanções “paralisantes” contra Israel. O texto denuncia o Estado por “estar a matar de fome o povo de Gaza e contemplar a remoção forçada de milhões de palestinianos”.
Além da carta, duas organizações israelitas de direitos humanos — B’Tselem e Physicians for Human Rights Israel — acusaram o governo de praticar genocídio deliberado contra os palestinianos. A afirmação, considerada um tabu num país fundado após o Holocausto, causou repercussão e enfrentou resistência oficial. A diretora internacional da B’Tselem, Sarit Michaeli, declarou que sua organização está preparada para enfrentar riscos legais e mediáticos ao assumir tal posição. Porta-vozes do governo rejeitaram as acusações, classificando-as como antissemitas.
Outras vozes da comunidade judaica internacional também se manifestaram. A reforma religiosa judaica, maior denominação nos EUA, responsabilizou Israel pela fome crescente, enquanto o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert criticou o plano do Ministério da Defesa de construir uma “cidade humanitária” sobre as ruínas de Rafah, comparando-o a um campo de concentração.
A Gaza Humanitarian Foundation, organização americana apoiada por Israel, já havia inaugurado quatro centros de distribuição em maio após um bloqueio total de alimentos e medicamentos por mais de dois meses. Embora autoridades israelitas e representantes da fundação aleguem que a medida é necessária para evitar desvios por parte do Hamas, testemunhas e órgãos internacionais afirmam que centenas de palestinianos foram mortos pelas forças israelitas ao tentarem chegar aos centros de ajuda.
Diante da multiplicação de imagens de crianças famintas e relatos de violência nos pontos de distribuição, cresce a pressão por uma resposta moral mais forte da comunidade internacional. Intelectuais como Yair Wallach, que cresceu em Israel e reside no Reino Unido, clamam por sanções reais como única saída para conter a catástrofe.
Enquanto o governo israelita nega a existência de fome — apesar dos dados da ONU e das declarações da própria administração norte-americana — o mundo observa com crescente alarme a deterioração das condições de vida em Gaza, exigindo uma ação imediata diante do que muitos já consideram uma tragédia anunciada.