Arnaldo Moreira dos Santos nasceu a 14 de março de 1935, no bairro da Ingombota, em Luanda, Angola. Passou a infância e a adolescência no emblemático bairro do Kinaxixe, espaço que viria a marcar profundamente a sua escrita e a sua visão literária. Concluiu os estudos primários e secundários na capital angolana, antes de iniciar a sua carreira na função pública. Desde cedo, demonstrou uma ligação íntima com a cultura, integrando nos anos 1950 o influente Grupo de Cultura, uma plêiade de intelectuais e artistas que moldaram o pensamento literário angolano.
No final da década de 1950, entre 1959 e 1960, Arnaldo Santos viveu em Portugal, onde teve contacto direto com figuras marcantes como Amílcar Cabral, Castro Soromenho e Mário Pinto de Andrade, além de autores marxistas que influenciaram sua visão crítica e estética. Em Lisboa, frequentou a Casa do Império, espaço de encontro de estudantes africanos, e aprofundou o seu envolvimento com os ideais de libertação e identidade cultural.
De regresso a Angola, Arnaldo Santos dedicou-se ao jornalismo e à literatura. Foi chefe de redação da revista Novembro e diretor do Jornal de Angola, além de colaborar com as revistas Cultura, ABC e Mensagem, esta última ligada aos estudantes da Casa do Império. Publicou também poesias no jornal O Brado Africano, revelando desde cedo uma escrita marcada pelo rigor linguístico e pela densidade psicológica das personagens.
Em 1960, publicou o seu primeiro livro de poemas, Fuga, e em 1965 estreou-se na ficção com o livro de contos Quinaxixe, uma homenagem ao bairro que o viu crescer. A consagração literária chegou em 1968 com o livro de crónicas Tempo de Munhungo, vencedor do Prémio Mota Veiga, atribuído em Luanda durante os anos 60 e 70. Após a independência de Angola, em 1975, Arnaldo Santos assumiu cargos públicos de grande relevância, dirigindo o Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD) e o Instituto Angolano do Cinema (IAC), contribuindo para a consolidação das políticas culturais do país.
Em 1977, publicou Poemas no Tempo e Kinaxixe e outras prosas, retomando a produção literária após um período de silêncio editorial. Em 1985, lançou Na Mbanza do Miranda, seguido por Nova Memória da Terra e dos Homens em 1987, consolidando-se como um dos grandes nomes da poesia angolana. Seus contos, caracterizados por uma linguagem precisa e pela incorporação de termos do kimbundu e umbundu, revelam uma profunda atenção à oralidade e à vivência urbana, especialmente nos musseques de Luanda. A Boneca de Quilengues, publicada em 1991, exemplifica essa simbiose linguística e espacial, ao transferir a ação para Benguela.
Em 1999, Arnaldo Santos publicou o seu primeiro romance, A Casa Velha das Margens, obra há muito aguardada pelos meios literários angolanos. Embora não seja um romance histórico, a narrativa evoca personagens e acontecimentos que remetem à realidade sociocultural da Angola do século XIX. Em 2004, foi distinguido com o Prémio Nacional de Artes e Cultura de Angola, reconhecimento pela elevada qualidade estética e artística da sua obra. Em março de 2014, lançou O Mais-Velho Menino dos Pássaros, seu livro mais recente.
Autodidata, jornalista, poeta, contista e romancista, Arnaldo Santos é membro fundador da União dos Escritores Angolanos e figura destacada da chamada “geração silenciosa”. A sua obra literária, marcada por uma profunda consciência social e estética, continua a ser referência incontornável na literatura angolana contemporânea.