Geraldo Pedro Gaspar, conhecido pelo nome artístico Gegé M’bakudi, nasceu em 15 de dezembro de 1999, no município do Sambizanga, Luanda, Angola. Artista visual autodidata, ator e diretor artístico, M’bakudi é uma figura emergente na cena cultural angolana, cuja obra celebra a beleza dos traços africanos, combate o racismo e reflete sobre a identidade, política e transformações sociais de Angola. Sua prática artística, que abrange pintura, fotografia, instalações e arte digital, é marcada pela experimentação e pelo compromisso com a representação da negritude, expressa em seu projeto de vida “De Pretos para Pretos”.

Infância e Formação
Crescer no vibrante bairro do Sambizanga moldou a sensibilidade artística de Gegé M’bakudi desde a infância, quando já manifestava interesse por expressões criativas. Durante a adolescência, entre 2015 e 2018, estudou Construção Civil na Escola Secundária Industrial de Luanda (Makarenko), sonhando em ser arquiteto. Contudo, sua paixão pela arte o levou a abandonar esse caminho para se dedicar integralmente à carreira de artista independente. Autodidata, ele desenvolveu habilidades técnicas em pintura e fotografia, inspirando-se no convívio com pessoas próximas e no consumo de conteúdo digital.

Carreira Artística
Gegé M’bakudi começou a se destacar em 2015, consolidando sua trajetória como artista visual. Em 2019, integrou o coletivo IBAKU, um grupo de jovens artistas independentes de Luanda que busca preservar a cultura africana e transmitir visões críticas sobre a sociedade angolana. Como diretor artístico e cenográfico do coletivo, M’bakudi contribuiu para projetos que unem arte e reflexão social.

Em 2020, lançou uma coleção de retratos inspirada em jovens africanos, com uma obra destacada na exposição coletiva Qual Futuro? dos LABCC. No ano seguinte, apresentou sua primeira exposição individual, Mvuma (2021, Casa Rede), uma coleção de seis pinturas que, em Kikongo, significa “flores”. A série exalta a beleza dos traços africanos, comparando-a à diversidade das flores, e reflete o desejo de M’bakudi de fortalecer a autoestima africana. No mesmo ano, conquistou o 3º lugar no concurso Plasticamente Arte da Eco Angola, reforçando sua abordagem sustentável e criativa.

Em 2022, durante sua primeira residência no Atelier Mutamba, expôs Azul Luanda e atuou na série televisiva Njila da Kwenda Magic, demonstrando sua versatilidade como artista e ator. Em 2023, participou da residência MAR da Galeria Movart e apresentou O Corpo Tântrico no Instituto Camões Português. Em 2024, estreou a exposição individual Azulibranco – A Cromática do Caos, realizou uma mostra colaborativa no Instituto Guimarães Rosa e integrou a residência Arteserrinha no Brasil, onde também foi premiado como Artista do Ano.

Sua exposição mais recente, AngoMetáfora da Morte (2024, Benguela), patrocinada pela Africell, apresenta 12 obras, incluindo três criadas especificamente para o contexto sociopolítico e cultural de Benguela. A mostra, descrita como uma crítica sarcástica ao mercado artístico e à realidade angolana, combina pinturas, instalações e fotografias. Nos dias que antecederam a inauguração, M’bakudi ministrou dois workshops gratuitos em Benguela, voltados para artistas, pensadores e curadores, com o objetivo de impulsionar o mercado artístico local.

Filosofia e Impacto
Gegé M’bakudi define-se como um “artista preto apaixonado pela beleza de África”. Sua obra é um tributo à negritude e uma resposta às injustiças históricas enfrentadas pelos povos africanos. Em suas palavras: “Sempre quis que o mundo visse, através dos meus olhos, como os traços negros são belos e poéticos. Sinto-me em dívida com África pelo sangue preto que carrego nas veias, e é através do meu trabalho que decido pagar essa dívida.” Seu projeto “De Pretos para Pretos” reflete essa missão de representar e empoderar a comunidade negra.

Suas criações exploram temas como cultura, história e transformações sociais, utilizando linguagens artísticas diversas para abordar o quotidiano angolano. A exposição AngoMetáfora da Morte, por exemplo, é descrita pelo escritor José Paciência como “mais do que estética: é denúncia, é rotina mascarada de morte, é banda desenhada com sangue seco e silêncios históricos”. M’bakudi também destaca a importância de colaborações, como as com o coletivo IBAKU, e planeja lançar seu primeiro livro de pinturas, Flores, além de produzir conteúdo audiovisual.

Visão e Aspirações
M’bakudi não impõe limites aos seus objetivos, afirmando estar “preparado para ser tudo o que quiser ser”. Seu maior sonho é ser lembrado como alguém que tornou o mundo um lugar melhor através da arte. Apesar de reconhecer a falta de apoio institucional para jovens artistas em Angola, ele celebra o apoio da comunidade e permanece otimista quanto a novas oportunidades. Sua escolha pela pintura e fotografia reflete a liberdade que essas mídias oferecem para expressar emoções e pensamentos, especialmente na luta contra o racismo e na valorização da identidade africana.

Legado e Projetos Futuros
Aos 25 anos, Gegé M’bakudi já deixou uma marca significativa na arte contemporânea angolana. Sua trajetória, marcada por exposições, residências e prêmios, reflete um compromisso com a inovação e a crítica social. Projetos futuros incluem a finalização do livro Flores e a estreia de um conteúdo audiovisual com o coletivo IBAKU. Sua habilidade de conectar tradição e contemporaneidade, aliada à sua visão de futuro, posiciona-o como uma voz essencial na preservação e evolução da cultura africana.